06/07/2011

Me Conta um Conto - 1


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Era uma daquelas tardes quentes que deixam a nuca suada por trás dos cabelos e uma sensação de agonia passadas aos pés que balançam por baixo das mesas. Aquelas que imploram por piscinas. As sombras dançavam em baixo das árvores que bravamente resistiam ao calor. Talvez suas raízes houvessem furado algum cano subterrâneo de abastecimento da cidade. A Natureza sempre dá um jeito de superar as adversidades, mesmo que para isso precise retirar recursos do homem. 

Samantha observava o parque municipal de frente ao café onde estava sentada. O local era um daqueles que muito atraem os turistas, com suas mesinhas redondas, cadeiras de pernas finas e guardas sol floridos. Dava pra observar a Eiffell dali. Mas, não a verdadeira. A Eiffell do famoso Paris\' Cassino.
Las Vegas têm dessas coisas.
E aquilo deixava os habitantes com uma sensação que só se encontra na América. Morar ali, era como morar em todo o planeta. Bastava ir de uma esquina à outra (ou melhor, de um cassino à outro), e logo se pulava de Paris para Egito. As luzes, as jogatinas, os sorrisos. Todos querem que seus sonhos sejam realizados. Las Vegas é o retrato do sonho americano de felicidade.
Mas, nem só de sonhos vivem os moradores dali.
Tudo que Sam tinha era o tempo para um café, alguns bolinhos e talvez um sorvete de passas com mel. Não que ela estivesse reclamando, é claro que não. Para uma estudante universitária, o melhor era mesmo ter um emprego de meio período. Especialmente o de sorte que ela tinha: bibliotecária. 

Um arrepio lhe percorria o sangue quando ela pensava em ter de servir mesas em algum daqueles cassinos. A timidez não a deixava conseguir sorrir a qualquer um e não fora criada com a libertinagem típica do trato com os turistas. Estava no emprego certo e era grata por sua sorte.
Então, ela sentia-se bem de poder dizer que trabalhava com sonhos concretos, não com os que terminam à meia-noite. E tomava seu café com gosto de quero mais, esperando por ele, sua principal distração na hora do almoço nessa última semana.
Ele apareceu minutos depois. Caminhou pela passarela de pedras irregulares do parque até encontrar o mesmo banco de frente ao café onde Sam estava, em que ele se sentava todos os dias. Observou o café como sempre fazia (ela acreditava que para certificar-se de que ela já estava ali) e sentava-se. Em suas mãos sempre estavam um refrigerante, um hot dog já meio comido e um jornal. Ele terminava o hot dog, tomava outro gole do refrigerante e abria o jornal.
Sam não conseguia convencer seus olhos a não observarem todos os passos do rapaz. Ela fazia isso todos os dias. De uma forma estranha, a imagem dele sentado no banco e lendo o jornal era a parte mais interessante do dia. Ela gostava de imaginar como seria se ele sorrisse para ela, ou se um dia sentasse ao seu lado. Especialmente quando ele a pegava em uma de suas observações, abaixando de leve o jornal dos olhos e mirando o local onde ela estava. Ela tinha a impressão que o via sorrir quando ele o fazia.
Então, ela terminava de comer e demorava-se só mais um pouco ali. Até quando observava seu quase atraso no relógio de pulso que levava. Pagava a conta, olhava uma última vez para ele e levantava-se para ir embora. Ele demorava só mais alguns minutos e também caminhava pela calçada tal como ela. Caminhavam lado a lado cada um de um lado da avenida e depois dobravam, cada um para um lado.
Todos os dias da última semana haviam repetido o ciclo.
Hoje, ele vestia um jeans, uma camisa de botões azul turquesa dobrada até os cotovelos e um colete preto. Nos pés estavam estranhas botas de alpinista cor de areia. Os cabelos eram curtos e muito negros e estavam penteados com um quase topete que lhe caia muito bem no rosto cheio de traços fortes e os olhos pequenos. Mas, naquele dia, algo havia mudado. 
Caminhou pela passarela, como de costume, mas não trazia nada em suas mãos. Mirou o café e sentou-se no banco. Parecia nervoso, pois cruzou os dedos, apoiou os cotovelos nos joelhos e recostou a boca ali em suas mãos. O mais estranho era seu olhar: Ele fuzilava o local onde Sam estava sentada sem qualquer discrição e parecia ser torturado pelos seus pensamentos, a julgar por sua expressão.
Ela sentiu suas bochechas quentes e abaixou o olhar para a xícara de café. O que havia acontecido com ele? Perguntaram-lhe os pensamentos, sem que ela tivesse qualquer resposta. Temendo encontrar aquela cena novamente e com sua mania costumeira de não saber lidar com as mudanças, ela não o observou até terminar de comer.  
Quando finalmente sentiu-se capaz de espiar por cima dos cílios, o viu na mesma posição, só que seu rosto havia mudado. Estava com uma expressão de determinação estranha. Então, ela o viu tremer um pouco antes de levantar-se. Ele já estava indo embora? Mas, por quê? Ainda faltava bastante tempo! Foi então que com os olhos semi-cerrados na direção dele parado de pé em frente à rua que ela entendeu. 
Ele estava atravessando a rua.
Naquele mesmo instante, reações estranhas invadiram o seu corpo. Primeiro, seu pulso enlouqueceu. Ela sentiu a pressão cair. Suas mãos estavam geladas e suavam, quase pingando. Suas pernas cruzadas começaram a tremer sem controle e sua garganta ficou completamente seca. Sentiu vontade de correr dali o máximo que pudesse, mas já estava sem tempo.
Quando finalmente teve coragem de olhar novamente, ele já estava daquele lado da rua, e avançando em sua direção com o mesmo rosto determinado. O que lhe restou? Esperar, olhando-o com um estranho medo em suas íris.
Finalmente, ele alcançou sua mesa, puxou uma cadeira na mesa ao lado, virou-a de costas sentando-se de modo em que suas mãos ficavam apoiadas no encosto da cadeira e ele a olhou nos olhos, e foi assim que ele começou a falar.
  Olha, moça, eu sei o quão isso é estranho e mal educado da minha parte, mas por favor, se puder perder só alguns minutos do seu tempo me escutando eu ficaria profundamente feliz... - Ele parou um pouco, enquanto a via assentir com a cabeça, os olhos ainda assustados. 
  OK. Há propósito, meu nome é Brian e... Todos os dias eu compro meu almoço e um jornal e me sento naquele banco ali; passei todos esses últimos dias sem conseguir dormir direito, sem conseguir me concentrar no trabalho ou mesmo fazer a barba, como você pode ver. Tudo isso porque todos os dias eu abro aquele jornal e não leio nada, porque fico pensando em maneiras bacanas de vir até aqui e dizer que te acho uma menina realmente linda e simpática e que provavelmente tem um zilhão de coisas à dizer, porque não é qualquer pessoa que trabalha numa biblioteca e sabe, eu amo ler e costumava ir todos os dias para lá essa hora, mas nunca tive coragem de ir até lá depois que descobri que era onde você trabalhava, então eu te segui uma vez e descobri que você almoçava aqui, então eu tenho almoçado aqui também todos os dias. Mas, sabe, eu já falei demais, e você provavelmente deve estar me achando louco ou querendo chamar a policia, e eu entendo perfeitamente, mas por favor me escute só mais um pouco... 
Ele parou um pouco pra respirar, depois deixou os ombros caírem e sua expressão desabar num rosto de pedido, alcançando as mãos de Sam do outro lado da mesa e segurando entre as suas, terminou:   Na verdade, tudo que eu queria fazer era vir até aqui, olhar nos seus olhos, segurar suas mãos entre as minhas e perguntar se seria muita audácia da minha parte vir aqui e perguntar: Quer sair comigo?
                                                                       ...
Samantha sentia o suor na nuca novamente, mas dessa vez era agradável. Seus cachos ruivos caíam soltos e quase molhados. Ali na curva de suas costas pousavam duas mãos. Seus pés estavam sobre os dele e era fácil dançar quando ele a conduzia daquela maneira. Aliás, ele tornava tudo mais fácil. Agradável. Divertido. 
Suas mãos pousavam sobre os ombros dele e seus olhos azuis eram iluminados pelo brilho confuso que iradiava do sorriso do rapaz. O corpo dele estava quente e completamente colado ao seu. Ela nunca tinha ficado no centro de uma multidão... 
O calor, misturado ao balanço das danças diversas dos casais próximos ou não e os sorrisos das pessoas desconhecidas animava de verdade. Mas, aquilo pouco importava para ela no momento. Tudo que ela conseguia pensar era em como alguém poderia mudar completamente tantas coisas em tão pouco tempo.
Podia ver perfeitamente as cores do momento do pedido. Era vermelho, para as suas bochechas, verde para as árvores ao redor e a esperança brotando da voz dele e amarelo, para o seu sorriso envergonhado e para seu sim completamente sem forças. E claro, o branco do sorriso dele. Sempre o sorriso dele. Uma explosão de sensações e cores mescladas à sentimentos diversos. Todos ligados ao mesmo destino: O balanço da cintura dele contra a dela e a músicas em seus ouvidos. 
Em menos de quatro horas, ele já havia feito beber, dançar e sorrir como nunca havia feito antes. E ela estava morta de vergonha, mas perto dele, fazer algo vergonhoso era só divertido, não humilhante. Ele tropeçou diversas vezes enquanto tentava ensiná-la a dançar aquelas batidas que viram até mesmo o coração. E ele caiu enquanto recebia um empurrão de um rapaz bêbado e grandalhão. Às vezes, ele era completamente patético, mas era profundamente encantador.
E agora, ele estava ali em seus braços. Mesmo após tanto dançar, ele ainda tinha cheiro de sabonete e amiscar. E o pescoço dele era quente e agradável. Ela procurou coragem no fundo de sua alma e deu um pequeno beijo ali. Ela escutou uma risadinha pequena próximo ao seu ouvido. Recebeu um beijo em troca no mesmo lugar. Riu também.
Como ele conseguia? 
Talvez ele não conseguisse, talvez ele estivesse sendo apenas o mesmo que sempre fora. Talvez ele simplesmente nem estivesse tentando. E talvez, só talvez, se ela também tentasse, como estava tentando, as coisas pudessem ser completas. Dois desconhecidos que talvez, apenas uma vez, resolveram ser quem realmente eram, sem máscaras e descobriram que poderia fazer aquilo sempre, deixando para sempre o talvez.
 Seria muita audácia se eu apenas fosse corajosa e pedisse que você fosse para sempre meu? - Disse bem próximo ao ouvido dele e lembrando a letra de uma música que sempre gostou. Sorriu.  Eu fui seu desde a primeira vez que a vi. Só que nenhum de nós dois sabia disso. Dança comigo pra sempre, Sam? 
...Mesmo que o sempre, seja apenas por essa noite. 
Faça algo se tornar eterno em seus pensamentos. 
Faça as coisas durarem pra sempre. 

O Amor é um jogo divertido demais para não o deixar acontecer.


Autora: Ilzy Souza
Postado por :: Gabe Valente

4 comentários:

Awn, que lindoo *_*
Anônimo
Ameeeei o Bloog, estou indo seguir!
Pode seguir? www.continuo-apenas.blogspot.com ?

beeeeijos ;*
poxa, queria participar mas nao estou conseguindo...
meu msn toninho.guerreiro@hotmail.com
alguem se habilita a me ensinar?

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